A imprensa e muitos dos meus colegas de internet comentaram sobre a senhora que reagiu à fala do Ministro Barroso em Oxford. Mas, na minha opinião, a coisa mais impactante da palestra do Ministro foi sua confissão acerca de como deve ser construída a “realidade objetiva” monopolizada, para que, a partir disso, as pessoas possam formar suas opiniões. Não foi, portanto, uma palestra, mas uma confissão como poucas vezes tivemos a oportunidade de assistir partindo de uma autoridade.
Antes, porém, gostaria de pedir escusas antecipadas ao Ministro por discordar de seus ideais Orwellianos. Gostaria de pedir clemência em nome de minhas filhas que dependem deste pobre pai para continuarem sobrevivendo.
Tomando emprestada a alegoria de Platão, seria como se Sócrates orientasse Glauco a imaginar uma sociedade onde, de fato, as imagens que representam a “realidade objetiva” fossem projetadas numa parede. Contudo, para garantir a “Ordem Suprema”, seria fundamental que, além de ajudar a manter a fogueira acesa, a função primeira de um “homem superior” seria garantir a qualidade dos grilhões, para que as pessoas estivessem devidamente acorrentadas desde seu nascimento. O correto, portanto, seria trabalhar em favor dos “amos da caverna”. Diria Sócrates: “Precisamos debater uma forma de garantir que os trabalhos jamais sejam interrompidos, e, para isso, é importante garantir que nenhum feixe de luz penetre na caverna atrapalhando as sombras produzidas pela fogueira”.
O livro 1984 deveria ser uma V4$$INA (escrito assim para evitar o selo do Ministério da Verdade), e não um manual de instruções. Barroso confessa despudoradamente que as pessoas podem debater, trocar ideias e, inclusive, escolherem seus líderes, mas desde que, exatamente como os acorrentados do “Mito da Caverna” de Platão, a “construção objetiva da realidade” seja feita por uma imprensa profissional (oficial) e, claro, devidamente controlada.
É assustador e, se eu ainda puder ter alguma opinião (hoje nem sei), defenderia que qualquer agente público, não importa a esfera ou o grau de importância, que externasse um pensamento assim, deveria ser destituído imediatamente para o bem da sociedade.
Foi a declaração pública mais grave de que tenho conhecimento nesses meus 43 anos de vida.